Sobre Campelos, Torres Vedras


                                     Historia  da  freguesia de Campelos
            Os dados mais antigos que julgamos poder ligar à freguesia de Campelos referem-se ao Casal da Amieira, pois da leitura do documento datado de 1309  sobre Torres Vedras, publicado por Harold B. Johnson,  seguindo o percurso dos inquiridores, parece-nos  que o Casal da Ameeyra dos Pobres corresponde à Amieira Grande, pela proximidade de Vila Facaia e pela inexistência na proximidade de outra Amieira.
            A  outra referência, contida em livro publicado sobre a Lourinhã é a da existência de uma ponte mandada construir por D: Pedro I em 1360, sobre o Rio Grande, junto ao Casal das Quintas.
            Alguns Casais antigos situavam-se junto à estrada Real, que ligava Lisboa ao Porto, e que atravessava esta Freguesia, sendo O S. Gião o maior exemplo, pois não existe  hoje, mas constava no Mapa de Portugal Moderno, do Padre Bautista de Castro, em 1768, no roteiro terrestre entre Lisboa e Caldas, onde se refere que é 1 légua do Ramalhal ao S. Gião.
            A principal localidade da freguesia - Campelos, era no inicio do século XVII, um dos mais pequenos Casais, como se pode ver pelo quadro abaixo dos baptismos.
            O território da actual freguesia de Campelos, pertenceu até 1945 à freguesia de Santa Maria, da sede do concelho, provavelmente devido à posse das terras, uma vez que pelo menos metade da Quinta do Campello foi pertença do Convento da Graça até meados do século passado. Outra justificação não parece existir para este enclave a 20 Km de distância da sede de freguesia, entalado entre as freguesias de A dos Cunhados, Ramalhal e Maxial criadas possivelmente todas no século XVI.
            Origem de Campelos 
            Campelos a maior aldeia, e sede da Freguesia do mesmo nome, vem merecendo da nossa parte uma pesquisa a todos os níveis, mas sobretudo a histórica, até porque a tradição e a lenda que vinham dos nossos antepassados, nos aguçavam o apetite. O nome Gaspar Campello estava sempre presente, de tal modo que desde o inicio da atribuição de nomes aos arruamentos, em 1978, a uma das ruas mais antigas da localidade, onde se diz que o Campello tinha uma casa, foi atribuído o nome Gaspar Campelos.
                Foi  numa procura iniciada em 1985, para as comemorações dos 40 anos de freguesia, que ao lermos o livro do Madeira Torres, sobre Torres Vedras, que encontramos o nome de Gaspar Campello, como Juiz de Fora desta cidade, em 1573,     ( também o encontrámos neste cargo, em10/9/1573 no livro de R. Figueiroa Rego - Alguns Sumários das notas de Vários Tabeliães da Vila de Torres Vedras dos Sec. XVI a XVIII )  começamos a acreditar mais na sua existência, faltava procurar mais dados,  e a sua ligação a esta terra.    
 No A.N.T.T., Colegiada de Santa Maria do Castelo de Torres Vedras, Volume 32, maço 23, que tem como data de inicio 1806, sendo concerteza  uma inventariação e transcrição de documentos anteriores, pois tem um índice resumido e depois a descrição e transcrição dos mesmos, o documento aqui encontrado é talvez o mais importante deste nosso estudo, pois permitiu comprovar a relação  do Gaspar Campello com esta região, e a existência da Capela, como a tradição oralmente vinha transmitindo até aos nossos dias. No documento lemos:
17 de Julho de 1587 =  Nº = 54 = He obrigação do Dr. Gaspar Campello = Diz que em Lisboa, nas cazas do Dr.   Gaspar Campello estando ele ahi  presente , e  Jacinta da Cunha sua mulher , por eles foi ditto ser verdade que tem huma Quinta  no Termo desta Villa aonde Xamão o Vale de Sacarias ?, em que elles têm huma Ermida , com invocação de Nossa Senhora da Paz , que eles fizerão  e agora pedem ao Sr. Arcebispo  lhe desse licensa para  nella se dizer Missa. Sendo despaxado que obrigassem huma Propriedade que rendeu 3000 reis cada anno para a fábrica della ; disserão que por este instromento , proteção , e obrigação e aos dittos 3000 reis de renda cada hum anno. Sendo necessário a dita sua Quinta, que dicerão valer 5 mil cruzados , e que sendo vendida fique sempre com a ditta obrigação .
Nas costas diz que hoje está derribada e que he Nossa Senhora da Paz ;e em huma Nota dentro diz que esta Quinta se xama hoje do Campello =.
            Este documento é praticamente suficiente para se poder dizer que aquela Quinta era aqui em Campelos, e portanto aqui teria efectivamente vivido por alguns períodos o Gaspar Campello, uma vez que em toda esta região Oeste não há mais nenhum  topónimo  Campelo, ou Campelos. Mas os livros de assentos paroquiais, da Igreja de S. Lourenço dos Francos, livro misto 1, confirmaram  essas vivências por estes locais, pois encontrámos registos com  referências ao Gaspar Campello, em 1585, 1589, 1601, 1606, 1608, e 1610, sendo este último do óbito de seu neto Gaspar da Cunha , e os outros de baptismos e casamentos.
            No registo de baptismo de 1585 lemos: “...foram padrinhos Estacio da Cunha e Vicência da Cunha mulher do doctor Gaspar Campello, juiz do crime de Lxª”
            Como vimos estas participações religiosas não deixam dúvidas quanto à residência mais ou menos frequente desta família aqui na zona, podendo-se mesmo pensar em residência permanente, se atendermos aos vários surtos de peste ocorridos em Lisboa , e ao clima de  possível guerra entre os espanhóis, que já dominavam Portugal.
           Voltamos a encontrar o Gaspar Campello, em  assentos paroquiais  na Igreja de Santa Justa de Lisboa, no livro de José Maria Cordeiro de Sousa - Registos Paroquiais Quinhentistas de Lisboa (Santa Justa ), como padrinho, em 1578, 1582, 1583,e referenciado como juiz em 2 dos registos.
            Sobre a confirmação do Campello como juiz do crime, no livro Manuscritos da Ajuda Guia I , pag. 395 , lemos:
            44 - XIV - 3 (nº 101 ) a fls 97 - consulta de 22 - 2- 1588 sôbre as pessoas que se nomeão para tomarem residencia aos dous corregedores do crime desta cidade e ao Juiz do crime o Licenciado Gaspar Campello “
            Mas quem será este Homem, Nobre?, parece-nos que sim, pois da leitura do livro Nobiliário de Famílias de Portugal, de Felgueiras Gaio, Vol. VIII, pag. 107, lemos:
 “& 10 , o  Dr. Gaspar Campello fº de Lourenço Campello nº3 do & 6 foi corregedor do crime em Lxª casou na dª cidade com Isabel Fz, filhos -? -? -? - o P. Antº Campello religioso Eremita q foi 5 sucessor do vincullo de seu avô Pedro Annes Campello mor. em1650.
            Também no mesmo livro de Felgueiras Gaio  podemos concluir que o Morgado dos Campellos teve sentença  final em 1654, e foram seus administradores: Lourenço Campello, Mathias Campello ( fº de Belchior Campello), Leonor  (irmã do anterior) Mª dos Guimaraens Peixoto (prima do Mathias ) , e, por último o Antonio Campello filho do Gaspar. Apesar de tentarmos, ainda não conseguimos encontrar nada sobre este Morgado.
            Como dissemos anteriormente , e com base no já colhido e escrito, julgamos ser este o nosso homem, pois nos livros de chancelaria  dos nossos Reis há referências a Gaspar Campello desde o reinado de D. João III (1521 - 1557) , a D. João IV ( 1640  - 1656), e de facto pelo menos mais um Gaspar Campello , oriundo da mesma linhagem, foi  Provedor do Algarve, mas não encontrámos mais nenhum Juiz. Há também o Frei Gaspar Campello, Carmelita, que faleceu em Lisboa em 1662 ( enciclopédia Luso Brasileira).
            Em jeito de conclusão podemos afirmar que o topónimo Campelos se deve ao Gaspar Campello, devido à Quinta que aqui possuiu , até porque enquanto alguns casais têm registos no final do sec XVI e principio do XVII, só em 1641 aparece o 1º baptismo da Quinta do Campello, e , em 1651 do Casal Novo junto à Quinta do Campello.
            Há vereadores da Câmara de Torres Vedras com o apelido de Campello, desde 1636 a 1834, e com muita frequência. Tentámos estabelecer algum elo de ligação ao Gaspar Campello, mas não conseguimos. Encontramos alguns registos de baptismo de pessoas com este apelido a residir no Varatojo e na Vila de Torres Vedras entre 1664 e 1673.  
           
             Registos Paroquiais
Colhidos no ANTT (Arquivo Nacional da Torre do Tombo), das Igrejas de S. Lourenço dos Francos e de Santa Maria do Castelo, deram-nos muitas informações, que nos permitem conhecer melhor a evolução das terras desta freguesia, e aldeias confinantes, pelos seus registos de casamentos, baptismos e óbitos.
                                     Casamentos
           A nossa análise foi efectuada tendo por base a residência do casal quando referida, a do noivo se morava nos casais em estudo, ou a morada da noiva quando destas terras, e não referida anteriormente, o que não é um correcto apontamento dos casamentos, ou das famílias aqui q residirem, pois alguns provavelmente casaram-se e foram residir para outros locais.
            0s mais antigos assentos encontrados, são do século XVI, e porque são só 3 vamos transcrevê-los: 6/11/1585 , casou Fernão Frz, filho de Diogo Frz, de Quatro Sobreiros, com Maria, filha de Fernão de Anes, de Papagouvas. Na página 52 v do livro misto 1 de Miragaia,  data de 3/11/ 1591, é o casamento de Lopo Gil,  do termo de Torres Vedras, Freguesia de Santa Maria, filho de Diogo Fz e de Violante Lopez, com Isabel Dias, de Ribamar- Lourinhã, filha de Joam Alvrs e de Maria Alvrs .O outro, em 15/4/596, de João Gomes, de Alboraria, Freguês de Santa Maria, com Inez Miz, de Miragaia
No século XVII, só encontrámos 22 casamentos, julgamos ser pouco, parece-nos faltarem registos, ou melhor alguns não foram efectuados, os que possuímos estão assim distribuidos:Albergarias-5;Casaes dos Rijos-5;Casal da Carrasqueira-2;Casais das Campainhas -4;Cabessa Gorda-2;Quinta do Campello-1;Casal das Oliveiras-1;Casal do Grilo-1;Amieira do Caldeira-1.
 Durante todo o sec. XVIII efectuaram-se nestas terras 188 casamentos, a grande maioria entre pessoas por aqui residentes, e alguns expostos do hospital de Lisboa.
            No século XIX, até 1850,há registo de 90 casamentos.

Baptismos
           Os Registos de baptismos parecem ser os mais fiéis, pela sua continuidade,  podendo pois servir de base para avaliação da população das aldeias em estudo.
            Do século XVI colhemos  1  registo:3/2/1585 Domingos filho de João Manoel e de Maria Lopez, residentes em Ribeira de Palheiros, foi o 1º encontrado desta localidade que não estando no âmbito deste estudo, não deixa de ser uma aldeia muito próxima. Das aldeias em análise só surgem a partir de 1600, em Casais dos Rijos, em 9/1/1600 - Violante, filha de Lopo Gil e de Maria Maria Atz, morador em Quatro Sobreiros, assim denominado nos registos da Igreja de S.Lourenço dos Francos, mas correspondente a Casais dos Rijos da freguesia de Santa Maria do Castelo, Torres Vedras, onde já nessa altura pertencia, verifica-se isso inclusive com este Lopo Gil.
            Para melhor compreensão dos movimentos da população destas aldeias, pareceu-nos melhor elaborar um quadro referente a cada século, sendo que do sec XIX é só até 1850 inclusive, pois os últimos livros foram recolhidos para os registos civis, e o de Torres Vedras não nos permitiu continuar a recolha.

                                 BAPTISMOS
                                                                                                                                 
LOCALIDADES
SEC XVII
SEC XVIII
SEC XIX ½
CAMPELOS
28
110
197
CABEÇA GORDA
15
45
41
CASAIS DOS RIJOS
50
59
53
CARRASQUEIRA
14
46
61
ALBERGARIAS
39
55
23
CASAL DAS OLIVEIRAS

29
39
CASALINHO
1
14
15
CASAL DAS CAMPAINHAS
2
13
18
CASAL DO GRILO
1
8
19
S. GIÃO
3
32
8
CASAL DO ROCIO

4
1
CASAL DAS GIESTAS
7
11
9
AMIEIRA DO CALDEIRA
13
54
4
AMIEIRA GRANDE
12
13
14
AMIEIRA PEQUENA
5
7
3
QUINTAS
1
23
10

                             TOTAIS                 191                523                  515

            Óbitos
             No século XVI encontrámos 3 registos de óbitos: 18/1/1589 - Braz Miz, morador na Albregaria; 16/6/1594 - Diogo Frz, morador nos Quatro Sobreiros, fez testamento;1/5/1597 - Ines Anriques, moradora na Albrigaria, mulher de João Gomes.
             Do século XVII, também só temos 35 óbitos, concerteza incompleto, pois não há registos de 1621 a 1683, o existente está assim distribuído: Casais dos Rijos - 12; Albergarias -7; Carrasqueira - 5; Campelos -4; Cabeça Gorda - 3; Casal das Giestas 2; Casal das Campainhas -1;Quintas -1.
             De 1700 a 1799 faleceram nestes casais 264 indivíduos.
            No ano de 1706 concerteza alguma doença grave surgiu, pois faleceram 11 pessoas, o que representa 4 % da mortalidade deste século, 6 dos Casais dos Rijos, 2 das Albergarias, 1 do Casal do Campello, 1 de Cabeça Gorda e outro de Casalinho junto A Ribeira de Palheiros.
             Mas, é no ano de 1811 que somos gravemente afectados, com 25 óbitos, 21 em Campelos, e,  somente nos meses de Abril e Maio, procurados os motivos, julgamos que tal se deve ás invasões Francesas, e à epidemia, que se sabe pelo livro de Madeira Torres, surgiu em Torres Vedras e seu termo em 1811.
            A 3ª invasão Francesa iniciou-se em final de Agosto de 1810, por Almeida, e vem pela estrada de Leiria para Lisboa , tendo portanto passado na estrada Real que atravessava esta freguesia, pelo S.Gião, Rocio, Amieira , e sobretudo nesta última invasão os franceses arrasavam tudo, deu-se a batalha do Buçaco em 27/9/1810, houve o recuo das nossas tropas e os franceses vieram descendo até Torres Vedras , onde chegaram no inicio de Outubro,  e, perante a grande obra que eram as linhas de Torres pararam, e por ali estiveram até 4 de Março de 1811, deixando destruição e fome em toda esta região. Dois dos óbitos de Campelos são de 2 mulheres , casadas, do lugar de Pragais, Porto de Mós, aqui chegadas concerteza com o turbilhão daquela invasão.
            A Posse da terra
            Para o desenvolvimento da freguesia  contribuiu a posse plena da terra, o que veio a suceder em 1851, com a remissão do foro ao Governo, por António Luís, após a extinção das ordens religiosas.
            Antes daquela data sabemos que o Gaspar Campello possuía a Quinta em 1587. Metade desta Quinta foi arrendada em 1632 por Manuel Vieira Cardoso, e declarou ser a outra metade dos frades da Graça ( do livro Subsidio para a investigação Histórica de Portugal, de Augusto Botelho da Costa). Confirma-se o pagamento do foro ao Convento da Graça em 1764, na décima deste ano, então pago por Manuel Esteves,  Lavrador, do Casal do Campello, e que era de 20 alqueires de trigo e 20 de sevada. Em 1830 o foro aos padres da Graça era pago por António Luís,  dos Campellos, de 40 alqueires de paem meado.

Texto publicado por mim, José Damas Antunes,  no Jornal Badaladas (ha alguns anos)
O texto já é público, se o utilizar, agradeço que faça referência ao autor.

11 comentários:

  1. Gostaria de conhecer a história completa da quinta da albergaria, se alguém me poder dar algumas informaçãoes, agredecia!
    Cumprimentos!

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  2. Não tenho nenhum texto elaborado sobre as Albergarias, mas pelo texto desta página, também pelo da pagina da posse da terra, e ainda pelo documento colocado na postagem sobre pedido dos moradores para irem para a paroquia de S. lourenços dos Francos, já há várias informações.
    Do Sec XVII, ao XIX eram os Casais das Albergarias de Cima e de Baixo, passou a Quinta já no Sec XX.

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  3. este texto é uma MERDA ñao me ajudou em nada!!!!!!!!!!!!! :(

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  4. é normal, se andava a procurar algum conteúdo que o mesmo não continha, mas o comentário também nada acrescentou, o que é pena, espero que após a pesquisa que anda a fazer possa acrescentar algo

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  5. Gostaria de obter mais informações acerca do agrupamento de escolas de campelos e sobre a sua história. obrigada.

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  6. Olá, a minha 1ª reação ao seu comentário foi entrar no site do Agrupamento, pois pensei que poderia ter grande parte da informação solicitada, mas não, nomeadamente sobre a história desse agrupamento, mas importa antes do mais saber se o pretendido é mesmo do Agrupamento, que é relativamente recente, ou é sobre algumas das escolas.
    Por ter sido um dos intervenientes ativos da criação da escola do 2º e 3º ciclo sei muito sobre a sua criação, bem como da Associação de Pais, mas não tenho nenhum texto elaborado sobre o assunto, estarei disponivel, mas talvez seja melhor responder a algumas perguntas via mail ou pessoalmente.

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  7. qual é a origem do nome Campelo?
    Campelos tem alguma lenda?

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  8. A origem do nome está descrita nesta página, e era uma lenda, que se foi confirmando em história, com os documentos que se foram encontrando. Deve-se a Gaspar Campello, que aqui teve uma quinta nos finais do Sec. XVI e inicio do XVII. ele próprio foi padrinho em baptismos e casamentos na igreja de S. Lourenço dos Francos.

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  9. Olá, há um Hipolito Ferreira Campellos no Family Search, id 9XNP-7H1 pela data de nascimento do neto dele parece ter nascido em torno de 1780.

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    1. Hipólito Ferreira Campelo, nasceu em Torres Vedras em 22/8/1783, não tenho mais informação sobre ele

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    2. Se tiver mais informação sobre ele agradeço

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